BAAL
Brecht, que chegou às cidades “em tempo de desordem”, viu que “os homens se revoltavam e “com eles se revoltou”. E aprendeu a não respeitar as leis e a gostar dos canalhas e das vielas, a proclamar, vaidoso, a poesia das tabernas contra o bruxulear dolente das academias, a exigir da vida a aventura ilimitada. Há neste jovem Brecht, nesta avidez, neste leitor incessante de Rimbaud, tocador de guitarra como Wedekind, um ímpeto imparável.
Jorge Silva Melo, in Prefácio de “Bertolt Brecht, Teatro 1”
O jovem Brecht passava muito tempo no seu quarto de águas furtadas. Aos fins de semana participava de tradicionais incursões noturnas, tocava e cantava músicas, subia às árvores e tomava banho no rio Lech. Em 1918, escreveu a primeira versão de “Baal” como réplica ao “O Solitário” do expressionista Hanns Johst, que tinha criticado vivamente. E nela replicaria também a sua vida. A primeira peça longa de Bertold Brecht, é a história de um poeta e cantor, um bêbado, um assassino que explora os lugares mais decadentes da sociedade. Um amante da liberdade, da natureza e dos prazeres.
O céu é negro, de que tens tu medo?
Movido pela paixão a este texto e à figura de Baal propus o desafio da sua montagem aos alunos do terceiro ano, neste projeto que é o último dos seus cursos. Objetivo complexo acrescido do facto de ser desenvolvido e apresentado num espaço não convencional, uma das salas do edifício AXA que abre hoje as suas portas ao publico. E não foram apenas estas as dificuldades encontradas durante o processo. Tal como o percurso de Baal, de passos trôpegos, embalados em cantos de aguardente, a experiência desta montagem foi, para todos nós, uma dança desajeitada no chão sujo, entre salas escuras de portas e janelas abertas, com surpresas diárias e futuro incerto. No dia a dia das nossas vicissitudes, fui encontrando a cumplicidade destes alunos que bem souberam empregnar-se do texto, entregando-se a um processo com características bem diferentes das que tinham experimentado até agora. Envolveram-se profundamente e deixaram que os seus corpos e os seus espíritos experimentassem uma vida nova, transformando-se ao longo do processo. Pensaram o espaço cénico de acordo com a encenação e foram, com as suas propostas, também gerando hipóteses dramatúrgicas. Permitiram-se ver o que os corpos fazem dos figurinos, elaboraram propostas com base na organicidade, construindo significados. Iluminaram à meia luz das condições do espaço e encontraram um tom para o ritmo evolutivo da peça.
Quisemos criar um mundo novo dentro de uma sala. Este é o primeiro grito. AJ
Texto: Bertolt Brecht
Tradução: Jorge Silva Melo e José Maria Vieira Mendes
Direção artística, Encenação e Coordenação de Interpretação: António Júlio
Coordenação de cenografia: Cristóvão Neto
Coordenação de figurinos: Manuela Ferreira
Coordenação de luz: José Carlos Gomes
Coordenação de som: João Rupio
Cenografia: João Freitas, Ana Maria Simões, Eloísa D'Ascensão, Andreia Silva, Renato Ribeiro, Inês Paiva
Figurinos: Joana Abreu, Sara Cerqueira, Débora Torres, Barbara Amorim, Daniela Castro
Luz: Guilherme Silva, Valter Araújo
Som: Hugo Moedas, Nelson Alves, Tiago Pinho
Tema d’“O coral do grande Baal” composto e dirigido por Tiago Jácome e Manuel Nabais
Personagens / Interpretação:
Baal: João Cravo Cardoso, Manuel Nabais, Mafalda Banquart
Mech: Ricardo Ferreira
Emilie: Diana Sousa
Johannes: Samuel de Albuquerque
Dr. Piller: Vítor Silva Costa
Johanna: Clarisse Fernandes
Ekart: Tiago Jácome, Isadora Monteiro
Luise: Inês Garrido
As Duas Irmãs: Joana Lemos, Maria Luís Cardoso
A Dona da Casa: Catarina Joele
Sophie Barger: Mafalda Correia
O Vagabundo: Joel Torrão
Lupu: Vítor Silva Costa
Mjurk: Marco Santos
A Corista: Ricardo Ferreira
Um Pianista: Bruno Vieira
Bolleboll: Pedro Ferreira
Gougou: Gonçalo Ferreira
O Mendigo Velho: Joel Torrão
Maja, a mendiga: Ana Alice Freitas
A Rapariga: Sofia Oliveira
Watzmann: Susana Brandão
Lenhador: Margarida Santos
Carroceiros Bruno Veludo, Bruno Vieira, João Carvalho, Kirsa Batista
Registo Fotográfico: Júlio Moreira
Divulgação: Gabriela Poças, Daniela Ferreira e Eva Ângelo
Produção: Glória Cheio e Pedro Aparício
Direção Técnica: Pedro Vieira de Carvalho
Direção de Cena: Natércio Silva
Apoio Luz: Cárin Geada
Apoio Som: Fábio Ferreira
Apoio Técnico: João Martins
Apoio Logístico: Cristina Ferreira, Alda Silva, Nuno Martins e Alberto Elísio